VERA MELIM
30.06.2013
Uma
das práticas mais adequadas para o ensino da arte tem sido sem dúvida, a
“Leitura de Imagem”. Muitos são os enfoques
que podem e devem ser dados, tendo em conta o objetivo que o professor espera
alcançar.
O
enfoque técnico da imagem, o enfoque histórico, ou o enfoque contexto
do artista. Nesse caso, mais especificamente o quê, de sua própria vida se reflete na obra.
No
enfoque técnico, temos as questões: cores, formas, materiais, texturas, tridimensionalidade,
interface entre linguagens, entre outros. No enfoque histórico, a relação da
obra com importantes fatos que ocorrem no mundo e seus significados. No aspecto
contexto da vida do artista, seu modo de viver e encarar a vida, impressos em sua obra. Exemplificando aqui, com
Bispo do Rosário (paciente psiquiátrico), que sequer considerava seu trabalho
como obra de arte, muito menos
considerava-se artista. Sua obra foi elevada ao status da arte,
devido a relação que sua produção estabeleceu - ainda que inconsciente - , com
o contexto histórico da arte contemporânea.
Cada
um desses enfoques, podem se desdobrar em muitas horas aulas, mediadas através
de estratégias teóricas e práticas, que irão enriquecer esses momentos e
possibilitar melhor assimilação dos conteúdos ministrados.
Se
o professor não estiver bem preparado vai escapar
muitos aspectos de todo esse conteúdo específico, obviamente.
Mas o que escapa
do professor e é enfoque desse texto, são algumas questões pedagógicas que não tem sido tratadas com a seriedade que exigem. É a escolha da imagem a ser trabalhada, tendo
muito em conta os aspectos: faixa etária
e a repercussão que a imagem ou imagens selecionadas, causarão na mente e sensibilidade
dos alunos.
Isso
é importante? Podemos refletir, observando a imagem que segue:
A alegria de viver é uma
pintura a óleo sobre tela do francês Henri Matisse. É considerada como o
verdadeiro marco de início da obra do pintor. Concebido entre 1905 e 1906.
Só
para começar a leitura de imagem: Título: A alegria de viver’. !? Como repercute esse título e essa imagem na
mente das crianças?
Estará
o professor preparado para mediar com proficiência
as questões que surgem dentro da sala de aula, a partir de uma imagem como essa? E que
questões são essas? São as observações
que as crianças fazem, pensam e nem sempre manifestam ao professor. Geralmente falam aos colegas murmurando, fazendo
gracinhas e risos. Escapa do professor, que ainda considera esse movimento como
“desatenção” dos alunos à sua aula. E os repreende!
Quantos
outros questionamentos - que envolvem conceitos morais e éticos- , uma imagem
como essa desperta na mente de quem está iniciando a vida!? Deve o professor Ignorá-los totalmente e preocupar-se
apenas com seu conteúdo específico, depois de
lançar um estopim na sala de aula? Essa imagem toca
no assunto sexualidade. Mas, a moderna e mais especificamente a arte contemporânea,
está impregnada de obras que tratam de muitos assuntos, para os quais, ainda
não há preparo pedagógico para serem
tratados em sala de aula.
O
que fazer?
O
fato de ter o status de arte, qualquer imagem deve ter trânsito
livre nas salas de aulas, desconsiderando
a faixa etária e ignorando sua repercussão?
Que
capacitação acadêmica têm tido os professores de arte para tratar dos “questionados, combatidos e esquecidos,”
temas transversais? (Ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual e
pluralidade cultural[i]).
A carga
horária disponível para as aulas de arte é suficiente para tratar com seriedade
desses temas?
Esses
temas devem ser tratados somente em projetos interdisciplinares?
É possível não limitar a mediação dos
conteúdos específicos com a seleção das imagens?
Temos
visto inúmeros desvios morais e éticos como resultados
na educação e não estamos enxergando as “causas”?
Temos lutado por uma liberdade de expressão
sem limites e nos omitido mesmo quando consideramos que está sendo excedido?
Não
há soluções para essas questões. Ponto final.
É
isso?
[i]
Parâmetros Curriculares nacionais. “Estamos
certos de que os Parâmetros serão instrumento útil no apoio às discussões
pedagógicas em sua escola, na elaboração de projetos educativos, no
planejamento das aulas, na reflexão sobre a prática educativa e na análise do
material didático.”
Dentre
os objetivos gerais do ensino
fundamental: “desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de
confiança em suas capacidades afetiva,
física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção
social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da
cidadania;
Nenhum comentário:
Postar um comentário