CONVITE AOS PROFESSORES DE ARTE
VERA MELIM
19.06.2013
Algo que me inquieta muito nas práticas docentes — em alguns casos
obviamente—é a relação professor - aluno. E surge, a partir de observações realizadas e
comentários de fatos reais vividos em
sala de aula que ouço de colegas, pais ou mesmo de alunos, por ser a docência o
meu meio profissional.
Entendendo
que, em todas as instâncias da educação devemos e até tratamos dessas questões
por ser uma preocupação geral e que vem de longe. No entanto, observo que ainda
é um assunto para ser aprofundado e refletido com mais seriedade e consciência,
visto as consequências negativas que geram.
A docência é de fundamental importância
na formação do ser humano como todos sabemos. Tanto quanto aos conhecimentos específicos,
como na formação da personalidade dos educandos, pois determinará o comportamento
no futuro, para enfrentar todos os desafios que a vida apresenta.
Tímidos,
revoltados, com obediência inteligente ou obediência cega pelo temor;
pró-ativos ou submissos, etc. Muitos desses traços enraízam-se na personalidade das crianças e adolescentes
devido ao tratamento recebido pelas “autoridades”, com as quais devem conviver
em seu meio: Pais, professores e todos os adultos que, por longo ou curto tempo, os têm sob seus
cuidados. Mas, nesse caso quero restringir-me à responsabilidade do
professor, por ser esse - como já disse -, o meu meio profissional.
Para ampliar nossas reflexões a respeito da relação professor aluno,
recordemos dos nossos professores, e de como fomos tratados. Basta, que para
isso recordemos de quantas atitudes deveríamos, ou queríamos ter tido e não
tivemos por temor ao professor, por medo de ser envergonhado diante dos demais ou
ser motivo de represália. Sei que quando
se leia o que aqui escrevo, haverá quem pense logo no comportamento inadequado,
maroto ou revoltado do aluno, e que esse é o motivo que justifica o mau tratamento
do professor para com o aluno.
Mas...será que justifica mesmo? Se
assim for, quem deve tomar a iniciativa, e reiterar essa conduta até que
seja “normal”, a de cultivar o diálogo cordial, discreto, respeitoso e individualizado se necessário for : quem ensina ou quem aprende?
Parece haver um pensamento
generalizado, de que disciplina, atenção, interesse e participação nas
atividades, só se consegue por meio da brusquidão, de chamados de
atenção diante dos demais,
sem a preocupação com a discrição que evita tocar negativamente a
sensibilidade infantil.
Sabemos que crianças e adolescentes se importam MUITO com o que os
demais pensam de si e tem verdadeiro pavor de “pagar mico”. Sendo assim, penso que ao chamar a atenção
de qualquer criança ou mesmo da turma inteira deveríamos sempre recordar disso.
E recordar como fomos e como queremos ser tratados. Mais ainda, refletir, analisando um
tratamento dado a um ou outro aluno, ao colocar-se em seu lugar. Aprovaria mesmo essa conduta?
Que impressão ficaria? Impressão é algo muito forte...muitas
ficam para sempre! Como me
sentiria? Gosto que me chamem a atenção
ríspida ou ironicamente diante dos demais?
Tenho o direito de exigir respeito se não dou? O que é mesmo respeito?
Fico imaginando como seria a reação de um adulto, na universidade (meus
alunos) se eu os tratasse como algumas crianças e adolescentes (individualmente
ou no coletivo), vejo às vezes serem tratados...! Tenho a certeza de que
revidariam imediatamente “colocando-me em meu lugar!” E merecidamente!
Por que são adultos, sabem se defender, conhecem os seus direitos e os meus
limites. Por que têm noção do que é respeito, educação e de como deve ser a relação
professor aluno. Conhecimentos que
as crianças e adolescentes ainda não possuem.
Nosso conhecimento específico é a arte. E que conceito temos de arte?
Dentre os inúmeros que já tive contato destaco um, com o qual me identifiquei
muito: Arte “[...] é a maestria na
execução de uma obra, a máxima maestria na execução de uma obra.” (C.B.G.Pecotche).
Nossa formação é para exercer a
função de mestre, de professor...não seria o caso de elevar nossas práticas
também à hierarquia da arte? E executar
com maestria a nossa obra na educação? Sabemos que a arte tem sido propulsora de
grandes mudanças conceituais através da história. Que os artistas, rebelando-se
contra imposições, injustiças, opressões, etc. denunciaram e criticaram através
de sua arte, promovendo reflexões e até importantes mudanças sociais. E isso
evidencia-se até hoje. Mais marcadamente ainda na arte contemporânea.
Nossa disciplina deveria ser
também esse meio, não apenas na mediação dos conteúdos específicos, mas também
na “arte de ensinar, na arte de aprender” e na arte de relacionar-se(agora
parafraseando Pecotche).
Esse texto não
pretende esgotar o assunto; que fique claro também, que não pretende denunciar
ninguém; e nem pretende dar a impressão de que observo graves atitudes na relação
professor aluno, nos meios em que atuo. Observo sim, atitudes que considero
equivocadas nessas relações, mas todas consideradas “normais” nos meios docentes. Mas eu não as considero normais e por isso minha inquietação e anelo de
provocar aprofundamento nessa questão que reitero: considero de fundamental
importância na docência de qualquer disciplina e em especial na da arte.
Que seja
esse um convite especial aos professores de arte – estendido a todos os demais
- para aproveitar esse momento histórico de mudanças que vive nosso país e levantar a bandeira da relação sempre cordial professor aluno, visando um
Brasil melhor.
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